Vila Ipê passou a ser o 4º Distrito de Vacaria pelo ato 696 da Câmara Municipal de Vereadores em 31 de Dezembro de 1890.
Fonte: JP02pg4-Osmar Vargas dos Santos
REMINISCÊNCIA DE UMA ÉPOCA
Vacaria outrora vasto município, abrigava em seu território as comunas de Bom Jesus e de Antônio Prado. Esta foi desmembrada em 1899 ficando a divisa cerca de 1 Km do perímetro urbano desta cidade, e de 70 Km de Vacaria. Portanto uma aberração!
O desenvolvimento chegou célere naquela região. Cessaram as desavenças políticas, comercias e etc... Uniram-se em torno de um ideal, anexar de Vacaria, detentora de vasta região territorial, uma faixa de terra, de mais ou menos 15 Km de largura por 50 Km de comprimento, tendo como orientação a sombra do mato. Naquela época esta região era coberta pela mata virgem, cujas suas sombras serviam como referência. Alegavam os Pradenses que esta pequena faixa de terra em nada prejudicaria o município cedente, uma vez que o perímetro urbano de Antônio Prado já teria alcançado a divisa atual e que Vacaria ficava distante 70 Km. Um absurdo! Pois geográfica e economicamente nada prejudicava Vacaria.
Afirmavam ainda que na região a ser anexada os habitantes dependiam muito de Antônio Prado, em virtude das distâncias, do comércio intenso onde este município tornou-se famoso como centro médico e hospitalar altamente qualificado.
Em conseqüência, a antiga Capela de São Luís de França, Segredo e Vila São Paulo, ficariam pertencendo a Antônio Prado caso fosse efetuada a anexação. Acontece que por parte dos habitantes dessa região, nem todos concordavam com a mudança. Estavam insuflados pelas lideranças políticas de Vacaria.
Se para Antônio Prado era uma questão de sobrevivência sair daquele sufoco, para Vacaria, nos conceitos daquela época, era tocar na sua honra, na sua integridade, na sua moral, ceder partes de suas terras a quem quer que fosse.
Surgiu assim um movimento de resistência às pretensões do município vizinho. Abaixo-assinados, comissões, políticos, lideranças de ambos os lados se cruzavam na estrada, única via que dava acesso à Porto Alegre e que servia a ambos os municípios. Formava-se assim um vai e vem contínuo, onde certa feita, duas caravanas se encontraram na balsa do Rio das Antas, Passo do Zeferino, e se não fora a prudência de seus chefes, esse encontro resultaria em desavenças de grandes proporções.
O ambiente estava tenso. Brigas entre vizinhos se verificavam. As autoridades estaduais começaram a se preocupar, de tal sorte que o Governador da época, General Daltro Filho, mandou um emissário com a finalidade resolver essa crise. Dr. Silon Rosa, entre outros, que após muitos contatos e com muita habilidade, alcançou êxito em parte.
Ficando acordato que Antônio Prado anexaria somente uma faixa de terra, cuja distância do perímetro urbano na época seria de 3Km, distância essa que aumentaria pelo interior, perfazendo uma área de mais ou menos 400 colônias, isto é, mais ou menos 100 Km2. A quantia era irrisória para as pretensões dos pradenses, mas se contentavam na expectativa de num segundo lance conseguir o objetivo total. Hoje a antiga divisa está dentro da cidade no perímetro urbano que desenvolveu muito. Enquanto a atual divisa, feita no acordo, dista apenas 2Km, por um lado. Hoje o município de Ipê também está há 2 Km da divisa.
Mas o júbilo dos Vacarianos por não ter perdido esta área é retratado no “CORREIO DO POVO DO DIA 9 DE AGOSTO DE 1939” com o seguinte artigo:
“Constituíram um acontecimento de alta significação as homenagens ao prefeito do município de Vacaria, Major SÁTIRO DORNELES DE OLIVEIRA FILHO, pelo esforço desprendido por esse edil Vacariano à alta admiração do Estado para que não fosse retirado do seu município o Distrito de São Luís hoje Vila Ipê.
Como a imprensa informou amplamente, de acordo com a divisão territorial do estado, aquele distrito deveria passar à jurisdição de Antônio Prado.
O povo e o Governo de Vacaria procuraram por todos os meios ANULAR, o ato do CONSELHO REGIONAL DE GEOGRAFIA.
As aspirações dos Vacarianos foram atendidas, desta forma justificam plenamente as manifestações de simpatias atribuídas ao Prefeito Dorneles que com essa atitude aumentou a sua já considerável folha de serviços prestados à sua terra.”
Caíram por terra os sonhos dos Pradenses, bem como a intransigência dos Vacarianos, porque no território em litígio começou um movimento de emancipação formando hoje o município de Ipê.
Como se verifica, tudo se transforma. Os conceitos e os valores se invertem. Hoje os municípios estimulam e apóiam a criação de novas comunas, como é o caso de Ipê, Esmeralda, Campestre da Serra, desmembradas de Vacaria. Antônio Prado, por sua vez, fez o mesmo desmembrando Nova Roma.
Hoje o novo município de Ipê vive em franca harmonia com Antônio Prado e Vacaria. Verdadeiro paradoxo entre uma e outra época. Os valores se invertem!
Por: Riograndino Paim de Andrade (Dino)
JornalPrisma142pg2
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